terça-feira, 20 de dezembro de 2016

O Leitor Voraz: (Resenha) A Cor do Crime – Wenerson Marengão

O LEITOR VORAZ: ( RESENHA) A COR DO CRIME  - WENERSON MARENGAO
  
   Quer saber qual é a cor do crime? Eu te digo: é Rochinho. Assim mesmo, com “ch”. Em seu primeiro livro, ainda a ser lançado, Wenerson Marengão conta a história de um assassino de aluguel excêntrico e apaixonado e mostra que, em um mundo onde não se pode confiar em seus heróis, um assassino pode despertar a simpatia e até ganhar torcida por um final feliz.
A Cor do Crime é uma daquelas coisas maravilhosas que acontece quando a gente tem um blogue literário. Depois de ler a uma resenha que fiz a respeito de outro autor nacional, Wenerson Marengão me enviou uma cópia de seu livro. Meu único arrependimento foi não ter começado a leitura antes.No livro, Marengão conta história de João Pedro Rochinho Ferreira. O trabalho de Rochinho é matar pessoas e ele usa sua influência dentro da Polícia para conseguir clientes e se livrar de problemas.Era um trabalho simples até ele encontrar aquela pessoa a quem não conseguiu matar. Quando conheceu Carol, João Pedro foi movido por um sentimento que o impediu de executar seu trabalho pela primeira vez. Ele levou a moça consigo e, junto com ela, começou a construir uma nova vida, paralela àquela de assassino de aluguel.
Em seu livro, o autor nos apresenta uma Polícia Militar tomada pela corrupção, onde a ordem hierárquica do comando militar é suplantada pelas influências externas, tornando possível a um sargento mandar em um coronel porque conhece as pessoas certas. Mostra uma polícia sufocada, em que homens fortes não conseguem lutar contra o sistema. Quem tentou, ou desistiu e se conformou ou então foi morto.
Nesse ambiente de corrupção e moral ambígua, fica muito fácil sentir simpatia pelo assassino que, afinal, só está fazendo o trabalho dele. Ele não nutre nenhum tipo de ódio por suas vítimas. Seu único capricho durante o trabalho é conversar com as vítimas antes de executar o serviço.

Gostei na história:


João Pedro Rochinho Ferreira é um personagem muito rico. Cheio de manias e excentricidades, tem tudo pra se tornar um daqueles personagens que ficam na memória do leitor.
O autor não segue uma ordem cronológica direta. Avança e retrocede no tempo sem aviso prévio fazendo com que o leitor fique ligado na sua história.
Marengão foi muito feliz na forma em que apresentou as situações que acabam levando uma pessoa a contratar um assassino de aluguel. Não tentou justificar nada, não tentou explicar nada, apenas contou os fatos como – claro que de forma fictícia – eles acontecem.
O autor também soube muito bem explicar aquela sensação de abandono, de solidão, que uma pessoa sente quando descobre que está impotente diante de uma situação; que as únicas pessoas que pensou que pudessem ajudá-la, não irão fazê-lo; que suas únicas alternativas são aceitar as coisas como se apresentam, mesmo que seja contra a lei.

sexta-feira, 16 de dezembro de 2016

A COR DO CRIME - eBOOK


https://www.+AAcorA COR DO CRIME  - OS VERDADEIROS CRIMES DE PADRE LUIZ  
                                                      BAIXE, LEIA E COMENTE 
 O crime tem uma cor? Um assassino tem alguma paixão? Até que ponto a amizade prevalece? Em quem devemos confiar? Na polícia, na justiça, na religião?
Sim... o crime tem uma cor! 
Sim... um assassino pode se apaixonar! 
A amizade prevalece até atingir o ponto em que passa a atrapalhar um interesse maior! E não deveríamos confiar em coisa alguma!

Em seu livro de estreia, Wenerson Marengão nos apresenta a história de João Pedro, um homem culto e bem posicionado na sociedade e que em suas horas vagas é um conceituado engenheiro. Porém ele tem como atividade principal matar pessoas. João Pedro é um matador de aluguel frio e excêntrico, que não nutre qualquer tipo de sentimento em relação às suas vítimas... mata apenas pelo dinheiro! Ele usa sua influência dentro das Polícias Civil e Militar para conseguir clientes e se livrar de problemas. 
Aqui o autor nos mostra as corporações policiais — em especial a Polícia Militar — tomadas pela corrupção, onde a ordem hierárquica do comando militar é suplantada pelas influências externas, tornando possível a um sargento dar ordens a um coronel, porque conhece as pessoas certas, ou pelo fato de possuir uma conta bancária farta o bastante para tal. Mostra uma polícia sufocada, em que homens fortes não conseguem lutar contra o sistema. Quem tentou, ou desistiu e se conformou ou foi morto. 
Contudo, em seu desenrolar, a história nos mostra que, nesse ambiente de corrupção e moral ambígua, em um mundo onde não se pode confiar em seus heróis, fica muito fácil sentir simpatia pelo assassino que, afinal, só está fazendo o seu trabalho e, então, torcer para que ele tenha um final feliz!

terça-feira, 10 de dezembro de 2013

                                                                   A COR DO CRIME






                     Enquanto dirigia pelas ruas de Goiânia, João Pedro gostava de pensar em banalidades, “para espairecer”, dizia. A bordo de seu carro, quase nunca ligava o som. Ele ficava sempre atento aos barulhos externos, pois esses poderiam indicar a aproximação de alguém ou de algum perigo. “É mais fácil ouvir o guinchar dos pneus de outro veículo, ou uma buzina, ou a sirene de uma viatura ou de uma ambulância.” Confidenciava aos amigos sua técnica para um trânsito mais seguro. Sempre tentava manter uma velocidade discreta, para assim não chamar a atenção de policiais e muito menos de bandidos e era o que ele fazia naquela noite, quase madrugada, conduzindo seu veículo numa velocidade entre 40 e 45 Km/h. desta forma pôde ver, com boa antecedência, as luzes de uma blitz policial.
                “Bem, vamos ver como está o prestigio de meus irmãos”, pensou confiante, seguindo em direção ao bloqueio. Como a rua estava praticamente vazia—apenas um carro ia à sua frente e, pelo retrovisor viu os faróis de outro que o seguia a uma distância considerável— ele, então, teve certeza de que seria parado. Ligou a seta e começou a levar seu automóvel para a direita e diminuiu a velocidade ainda mais! Ainda a certa distância, viu que havia três viaturas naquela operação e as luzes de seus giroflex invadiam o interior de seu carro e seus olhos. Ao se aproximar, um policial mandou-o parar. 
                     —Boa noite, senhor. Por favor, desça do veículo.—Disse o policial, necessitando se abaixar, divido a sua avantajada estatura, segurando uma lanterna com a mão esquerda, direcionando seu facho aos olhos de João Pedro e a mão direita sobre sua arma, que ainda repousava no coldre.
                      O rapaz destravou o cinto e abriu a porta para obedecer à ordem, quando fora reconhecido:
                       —João Pedro?—Perguntou o policial.
                      —Sim.—Respondeu prontamente—E ai? Tudo bem Gonçalves?—Chamou-o pelo nome, uma vez que o conhecia também.
                     —Eu estaria bem mesmo se estivesse em casa, com minha esposa, ou pelo menos no quartel, mas você sabe como é, né? Somos como escoteiros...sempre alerta!—Disse sorrindo.
                       —Mas isto aqui é só rotina, né?—Pergunto João Pedro, referindo-se a blitz.
                       —Nada! Um “bacana” desapareceu e as ordens são para ficarmos aqui até as 06h00m da manhã...vai que o cidadão resolva passar por aqui.—Disse, coçando a cabeça, um tanto insatisfeito.     
                       —Puta-que-pariu! Agora é 01h30m! Vocês tão ferrados! Num frio desses? Cara, você tá mais branco que já é!—Espantou-se, vendo que o amigo e seus colegas sofriam com o frio, mesmo utilizando os pesados casacos do fardamento—Mas quem é o cara? Pode me dizer?—Perguntou.
                       —O nome eu não sei...não me lembro e quer saber? Nem ligo. Mas a foto dele tá aqui. Quer ver?
                       —Posso?—Perguntou interessado.
                       —Claro que sim.—Respondeu o policial, caminhando em direção a viatura, sendo seguido por João Pedro, enquanto um colega seu dava ordens para que outro aventureiro noturno parasse seu carro.—Assim se você o reconhecer, pode até me dizer o nome.
                       —É mesmo!—Concordou, olhando para o céu, procurando a lua, enquanto acompanhava seu amigo policial.
                       Caminharam alguns metros até chegarem à viatura. João Pedro estava tranquilo e dessa forma permaneceu.
                       —É este aqui.—Disse o sargento Gonçalves, entregando a foto, uma foto grande, impressa em papel ofício.—Ele é dono de uma transportadora...o cara tem grana...—Concluiu vagamente, como se aquela informação não possuísse nenhuma importância para ele.                
                       —Já vi esse cara, ele é muito conhecido!—Revelou João Pedro, após analisar a foto sob o facho da lanterna.—O nome dele é Romualdo, dono da 3R, aquela transportadora grande na saída pra São Paulo! Sabe dela?—Perguntou, como se perguntasse sobre o aeroporto ou a rodoviária, mostrando que a empresa era mesmo conhecida.


                       —Sei sim! Ela é grande pra caramba! O cara tem dinheiro mesmo, então!—Concordou o policial.
                       —Pois é...mas o que aconteceu?—Indagou João Pedro, olhando em volta e vendo que havia, naquele momento, três outros carros parados no bloqueio, não demonstrando muito interesse no desaparecido.
                       —Cara, ele parou numa padaria...—disse, praticamente se sentando sobre o capô da viatura policial, ainda assim permanecendo com os dois pés no chão—dessas que ficam abertas a noite toda sabe?—João Pedro assentiu.—Comprou alguns biscoitos, dois sorvetes...
                       —Sorvetes? Que merda!—Murmurou João Pedro, virando o rosto, interrompendo o amigo por alguns segundos.
                       —Como é? O que você disse?—Quis saber o sargento, cerrando os olhos, dando mais ênfase à pergunta.
                       —Nada não.—Disfarçou, buscando seu celular no bolso do paletó e olhando as horas.                    
                       —Então...ele comprou algumas coisas, saiu caminhando da panificadora... porém não entrou em seu carro!—Falou, fazendo um gesto com as mãos, como os mágicos quando fazem algum objeto desaparecer.
                       —Como assim?—Perguntou, desviando seu olhar, que do celular passou ao céu, indo depois para o militar.
                       —Ele simplesmente desapareceu! Uma pessoa ligou para o 190 e disse ter visto um homem colocando outro no porta-malas de um carro...um sequestro...sabe como é, né?
                       —E...?—João Pedro quis mais detalhes, se aproximando do militar.
                       —Essa testemunha disse ter presenciado o fato nas proximidades da panificadora que o “desaparecido” frequenta...
                       —E...?—Novamente João Pedro buscava detalhes e novamente interrompia o sargento e novamente se aproximava um pouco mais.
                       —Bem, isto é tudo o que nos foi passado. A testemunha disse que não sabe o modelo, nem a marca do carro em que o homem foi colocado, mas disse que era um “carrão” coreano...agora te pergunto...o cara não sabe qual o modelo, não sabe a marca, mas disse que é um coreano. Esse cara não sabe a diferença entre um fusca e um Fiat 147 e fica ai enchendo o saco.—Gonçalves parou de falar, olhou para o céu, suspirou e olhou seriamente para João Pedro.—O seu é “um carrão coreano”, isso quer dizer que você é um suspeito. O que faz na rua à uma hora destas? Por favor, senhor, abra o porta-malas...preciso verificar se não há um homem sequestrado em seu interior!


                       João Pedro gelou, ficou sem palavras e tentava a todo custo disfarçar seu espanto e ainda com os olhos arregalados ouviu Gonçalves continuar:
                       —Tá vendo, João? Que testemunha é essa? Você acha que a PM tem tempo para ficar “parando” todos os carros coreanos da cidade? Eu pelo menos não tenho tempo, paciência, idade e muito menos saúde pra isso!—O rapaz balançava a cabeça concordando, mesmo sem entender o que o amigo dizia, ou por que dizia.— E agora temos que ficar aqui, procurando por alguém que talvez esteja em um quarto de motel com alguma puta...
                       —Como assim?—Perguntou outra vez, já com o coração aliviado, percebendo que o militar apenas brincara em tom de desabafo.
                       —Cara, eu já vi tanta desculpa esfarrapada para arranjar tempo pra sair com a amante, que nem me espanto mais. Certa vez atendemos uma ocorrência em um motel. Uma mulher queria matar o marido e a amante dele...o cara até comprou passagens e pagou hotel, dizendo pra esposa que iria a São Paulo para uma reunião...mas a esposa descobriu que ele só queria um “tempinho” com a amante e quase deu morte. Se não fosse o pessoal da recepção nos chamar, ela teria matado os dois! Então não me espantaria se o nosso “desaparecido” tiver somente forjado um sequestro, pra poder passar a noite com uma vagabunda qualquer...acontece muito disso.—Disse, olhando outra vez para o céu e balançando a cabeça de um lado para o outro.—Mas e você? Como está? Tá tudo bem?
                       —Sim, por quê?—Perguntou João Pedro, sem entender o motivo da pergunta.
                       —Agorinha mesmo, enquanto conversávamos, você disse um “merda” bem nervoso! Pensei que houvesse acontecido algo ruim.
                       —Você não iria acreditar mesmo, Gonçalves!—Disse, apanhando o celular no bolso e selecionando uma foto.—Não era nada, não! Só que eu tenho que ir...gostaria de ficar aqui, até amanhecer, batendo papo contigo, sabe?...ajudando no que fosse possível—Disse sarcasticamente—mas realmente tenho que ir. Dê uma olhada nesta foto...ela tá me esperando.—Explicou-se, mostrando a foto de uma bela garota, enquanto sorria para o amigo.
                       —Cara, não perde tempo aqui, não! Vá embora logo!—Respondeu Gonçalves, batendo no ombro do amigo e se levantando do capô da viatura.—É bem provável que aqui você não consiga uma gata dessas...—gargalhou—vai lá, perde tempo comigo não!
                       —Vou nessa!—Falou, já entrando no carro.—Espero que encontrem esse filha da puta logo, pra vocês poderem sair desse frio...
                       —Cara, se encontrarem pode ter certeza que irei “encostar” em algum puteiro pra dar uma esquentada...vai lá! Ela é muito gatinha pra ficar na mão!—Concluiu, com o veículo do amigo já em movimento.
                        João Pedro saiu calmamente e antes que pudesse se ater ao volante por completo, viu numa viatura que acabara de chegar, outro amigo seu. O tenente Farias ainda não havia descido do carro policial quando João Pedro deixava o local da blitz, contudo, mesmo de dentro do automóvel, fez um sinal de positivo com o polegar direito, que foi respondido por João Pedro com um gesto como que batesse continência, que também foi visto pelo jovem soldado que conduzia a viatura.
                       —Ele é policial, tenente?—Perguntou o curioso soldado.
                       —Sim...ele é lá do sétimo batalhão...—respondeu o tenente, despretensiosamente, querendo encerrar o assunto.


 


 


                                                          


 


 



quarta-feira, 20 de novembro de 2013

A COR DO CRIME



                     —Já acordou, bela adormecida?—Perguntou João Pedro, sem esperar que houvesse resposta, uma vez que seu “interlocutor” estava amarrado e amordaçado.—Tenho que aumentar a “dose”  de éter no nariz do próximo.—Concluiu em pensamento.

                       Ele chegou mais perto e com um arranco retirou o ocupante de seu porta-malas. O homem caiu, pois suas pernas estavam amarradas também. João Pedro o ajudou a se sentar e percebeu que sua roupa estava úmida. Lembrou-se, então, que ouvira do sargento Gonçalves que o “sequestrado” havia comprado picolés e rapidamente olhou o interior de seu porta-malas. Sem muito esforço constatou que todo o forro também estava molhado.

                       —Seu filho-da-puta! Se não fosse te matar, eu iria te dar um tiro no saco!—Disse baixinho, com uma voz serena, porém externando toda a raiva que sentira ao ver seu carro sujo pelos picolés derretidos.—Olha só o que você fez!—Disse, pegando o homem pelo pescoço e quase fazendo com que ele voltasse ao porta-malas.— olha aí, seu desgraçado, veja o que você fez! Só falta ter urinado no meu carro, ai sim, eu te mato!—Concluiu, segurando-o pelo colarinho, fazendo-o ficar de pé...deixando-o ainda mais espantado, ao perceber que sua estatura, seu um metro e setenta e cinco eram bem menos que os mais de um metro e noventa de seu algoz!

                       Feito isso, jogou-o novamente ao chão, deixando-o em desespero ao sacar sua arma! Em seguida João Pedro arrancou a fita adesiva que o amordaçava com a mão direita, enquanto a esquerda pressionava a pistola contra a testa do pobre homem!

                       —Calado...caladinho.—Tentava “acalmá-lo”.

                       O homem ofegava...suas narinas dilatavam-se e contraiam-se, como as narinas daqueles que estão tomados pelo pavor! Sua pele estava branca, como alguém que não tomava banho de sol havia muito tempo, pálida como cera. Seu sangue não dava mostras de que circulava em seu corpo! Seu suor—um suor gelado—molhava sua roupa.

                       —Se você se acalmar, se ficar quieto e calado, vou conversar um pouco com você...mas se der um “pio”, te matarei sem dar uma única palavra. Ok? Você entendeu?—O homem assentiu e, ainda que apavorado, teve lucidez para estranhar o tom sereno das palavras daquele que estava ali para lhe matar.—Posso confiar? Não vai fazer besteira?—Ele meneou a cabeça, assustado, sem saber o que viria pela frente...seu carrasco disse que queria conversar e isso o deixou ainda mais confuso, ainda mais apavorado

                       João Pedro olhou para o crescente e buscou, novamente em seu bolso, o celular. Queria ver as horas. Não que estivesse atrasado para seu segundo compromisso daquela noite...era uma mania sua, um tique nervoso, gostava de ver as horas à cada momento.
                      
                       —Ok, tudo bem. Vou confiar em você! Vamos “conversar”. Mas primeiro vou te passar minhas regras.—Disse, ainda admirando o luar, ainda com a voz serena.—Se eu lhe fizer alguma pergunta, você pode e deve responder...esta é a primeira, a mais importante e a única regra que tenho. E no decorrer da “conversa”, caso eu considere que você possa fazer alguma pergunta, você saberá, eu lhe direi. Ok pra você? Tudo certo?—O homem assentiu outra vez.—Então respire fundo, vamos começar!—Disse, abrindo a porta do motorista e sentando-se no banco, deixando ambas as pernas para fora, com os pés repousados na fina poeira da estrada.

                       João Pedro possuía essa característica. Conversava com seus “trabalhos” por alguns minutos, dependendo da receptividade dessas pessoas, dependendo de como elas encaravam o fato de ainda vivas, já estarem mortas. Ele gostava de revelar às pessoas que executava o porquê morriam, por qual motivo estavam deixando este mundo! Não fazia isso por pensar ser Deus, não passava pela sua cabeça escolher quem deveria morrer, ou quem deveria continuar usufruindo seus dias. Não se sentia um “arregimentador” de almas, a serviço de Deus ou do diabo! Ele só conversava com seus condenados porque isso o reconfortava. Ele sentia-se melhor consigo mesmo após cada diálogo. Imaginava que assim expiava uma parcela de seus crescentes pecados.

                       —De que lua você gosta mais?—Perguntou com os olhos fixos no crescente, em um distante tom de voz...naquele instante nada o comovia ou o incomodava. Aquele era o momento em que o “se” havia desaparecido. João Pedro não se preocupava em pensar “se” um veículo saísse da rodovia e entrasse naquela estradinha, flagrando-o ao executar, literalmente, seu serviço...“se” um morador sem sono aparecesse para importuná-los...“se” seu acompanhante tentasse fugir ou “se” qualquer outra coisa ocorresse. Agora, pensava ele, nada mais o atrapalharia. Era seu ritual. A partir do instante em que retirava sua “vítima” do porta-malas nada mais poderia ser feito...era um caminho sem volta! Aquele era um momento dos dois...nenhum elemento externo poderia atrapalhar...nenhum policial, nenhuma blitz. Réu e algoz, sozinhos, resolveriam a situação!
                      
                          —De qual fase da lua você mais gosta?—Perguntou novamente, uma vez que não obteve resposta, com o mesmo tom de voz e ainda mirando a lua.

                              —Lua cheia! Gosto da lua cheia!—Respondeu em um estalo após a segunda vez em que João Pedro perguntara, como se quisesse recuperar o tempo perdido, uma vez que se lembrara de que seu carrasco lhe dissera...“se eu lhe fizer alguma pergunta você pode e deve responder!”

                       —De qual?—Perguntou outra vez, como se não houvesse compreendido o que seu acompanhante lhe falara, ou como não acreditando na resposta que ouvira.

                              —Gosto da lua cheia!—Respondeu rapidamente, ofegante...com os olhos arregalados.

                    —Você é bem como pensei...você é óbvio...—Disse, desviando seu olhar da lua e voltando-o ao homem sentado no chão, não demonstrando sentimento algum, vendo o quão assustado ele estava. Seus lábios estavam secos, a ponto de já estarem trincados, seus olhos arregalados, que diziam que ele nada estava entendendo, quase saltavam das órbitas e o vai vem frenético das narinas, abrindo e fechando eram as provas irrefutáveis de qual seria o nível de seu terror!—Como eu falei, você é óbvio.—Disse, voltando o olhar para lua.—Com esta resposta, eu sou capaz de te dizer qual a marca de arroz que você come em sua casa, qual o seu refrigerante favorito...sou capaz de acertar a sua marca de cerveja predileta, qual a emissora de TV vocês assistem. E seu carro? Se você fosse pobre, morreria de vontade de comprar um Gol, mesmo que fosse usado, mas deveria ser um Gol. Mas como você possui o vil metal, escolheu um desses três. Um Mercedes, mesmo que dos mais baratos, só pra ostentar, ou um Honda Civic, ou um Toyota Corolla...estou certo, né?—Perguntou, sem emoção, como que conversasse sozinho.—Tá bom...talvez além desses três, você pudesse ter vontade de comprar um Ford Fusion, né? Um carrão americano não é de todo mal! Qual é o seu carro?—Perguntou, ainda olhando para a lua.

                              —Um Civic...um Honda Civic—Respondeu, após engolir à seco.

                       —Bingo! Você é óbvio...e eu odeio pessoas óbvias!—Disse e se levantou, fazendo o homem se espantar ainda mais, deitando-se de lado, tentando esconder seu rosto no pó da estrada. João Pedro, que segurava a arma com a mão esquerda, usou a direita para retirar o carregador, verificou se havia munição, apenas para efeito de terrorismo psicológico e recolocou-o em seu lugar. Nesse momento o homem, em total desespero, urinou nas calças.

                       —Por favor! Por favor! Não me mate!—Suplicou em voz baixa, pois não conseguira gritar, com o rosto completamente coberto de poeira.

                       —Se eu te matasse agora, também seria uma pessoa óbvia, mas eu não sou e não quero ser.—Falou, colocando a arma em cima do carro, sentando-se, novamente com as pernas para fora dele.—Não escolha o que você vai comer, vestir, usar, beber, só porque a maioria também escolheu...—disse em tom professoral—não ter personalidade te diminui, te enfraquece, te deixa frágil...não seja assim. Por que comprar um Mercedes, um Civic, um Corolla, ou um Fusion? Por que tem que ser um alemão ou um japonês, no máximo um americano? Não seja assim...existem ótimos sedãs coreanos...faça como eu—disse dando dois tapinhas no volante de seu carro— numa próxima vida, siga meus conselhos...

  João Pedro mata pessoas...não por prazer, não por ódio, não por quaisquer convicções...João Pedro mata pessoas por e pelo dinheiro! Ele recebe as “encomendas”, as quais chama de “contratos” e as cumpre, executando friamente suas vitimas.

UMA HISTÓRIA ONDE NÃO HÁ HERÓIS

                                           
                                           


                                                 TEMA QUEM OSTENTA UM TERÇO...



                     


                         ASSIM COMO DEVERIA TEMER A QUEM PORTA UMA ARMA!